quarta-feira, 15 de maio de 2024

Anais do colapso climático


Outras Palavras 06-05-2024, por Daniel Lemos Jeziorny
https://outraspalavras.net/crise-brasileira/tragedia-gaucha-e-a-arte-de-cegar/

Quanto mais se publica sobre este novo desastre, mais se esconde o essencial: o colapso do clima pode ser evitado; basta nos livrarmos do sistema que o produz. Para que isso permaneça ofuscado, os noticiários nos inundam de banalidades

2024-05-15

domingo, 12 de maio de 2024

Metrô privatizado é prejuízo para a sociedade!


TAB Uol 09-05-2024
https://tab.uol.com.br/noticias/redacao/2024/05/09/metro-e-cptm-perderam-86-de-repasses-do-bilhete-unico-apos-privatizacoes.htm

Após privatizações, repasse do Bilhete Único para Metrô e CPTM caiu 86%. As concessionárias têm prioridade na hora de sacar os R$ 7 bilhões arrecadados com o Bilhete Único. Metrô e CPTM vêm por último e ficam, literalmente, com as sobras. Em 2022, conforme o uol revelou, ViaQuatro e ViaMobilidade, empresas do grupo CCR receberam juntas R$ 2 bilhões para transportar cerca de 500 milhões de passageiros. Metrô e CPTM carregaram mais que o dobro (1,23 bilhão de passageiros), mas ficaram só com R$ 460 milhões no período. (Resumo Blog do Noblat)
2024-05-12

Leia, neste blog: "Transmilenio, quem vai pagar a conta?"
https://abeiradourbanismo.blogspot.com/2022/01/transmilenio-quem-vai-pagar-conta.html


quarta-feira, 8 de maio de 2024

Mumford 1961: A urbanização medieval (1)


Capítulo X, seções 4 e 5, extraídas de MUMFORD L (1961), La Ciudad en la Historia, Logroño (Esp): Pepitas de calabaza Ed., 2012, pp. 503-24
https://docs.google.com/document/d/1QmZp8z1vQXf9NtCfRx-mSH2MmsUhUBIf65UobgkgUv8/edit?usp=sharing

Fonte: https://en.wikipedia.org/wiki/Carcassonne 


(..) En general, las ciudades medievales pueden clasificarse en tres grandes tipos que corresponden a sus orígenes históricos, sus peculiaridades geográficas y su modo de desarrollo. (..)

Las ciudades que perduraron desde el tiempo de los romanos conservaron, por lo general, su sistema rectangular de diseño de manzanas, en el centro inicial, modificado por la construcción de una ciudadela o de un monasterio, el cual podría alterar la división uniforme en parcelas.
Las ciudades que crecieron lentamente a partir de una aldea o de un grupo de aldeas, al pie de un monasterio o un castillo, se ajustaban más estrictamente a la topografía, cambiando lentamente de generación en generación y conservando a menudo ciertos rasgos de su trazado que eran productos de los accidentes históricos y no de la elección consciente. Con frecuencia se considera que este segundo tipo de ciudad es el único auténticamente medieval: (..).
Por último, muchas ciudades medievales se proyectaron por adelantado para la colonización; frecuentemente, pero no siempre, estas serían trazadas con un estricto plano en damero, con una plaza central que se dejaba abierta para el mercado y la reunión pública.

Los tres tipos son igualmente medievales. Separándose o combinándose produjeron una variedad infinita de formas. (..)

2024-05-08

domingo, 5 de maio de 2024

quarta-feira, 1 de maio de 2024

Harvey 1982: A teoria da renda


"A Teoria da Renda" (extraído de HARVEY D (1982), Os Limites do Capital. São Paulo: Boitempo, 2013).
https://docs.google.com/document/d/1l7E4r2KnREkd-RlrAmeOe4l5VsaI6_t_lnx9X0cRCVY/edit?usp=sharing

A teoria da renda, é justo dizer, perturbou profundamente Marx. Ele procurou realizar “uma análise científica da renda fundiária e da forma econômica específica da propriedade da terra tendo por base o modo de produção capitalista” em sua “forma pura, isenta de todas as irrelevâncias distorcidas e confusas”[1]. Mas seus escritos sobre o assunto, todos publicados postumamente, são em sua maioria pensamentos incipientes escritos no processo da descoberta. Como tais, eles frequentemente parecem contraditórios. As formulações nas Teorias do mais-valor diferem substancialmente das poucas passagens aprimoradas n’O capital, ao passo que sua análise nesta última obra, embora extensiva e com frequência penetrante, é prejudicada por algumas dificuldades que não cedem facilmente à mágica do seu toque. O resultado é uma boa quantidade de confusão e uma controvérsia imensa e continuada entre aquelas poucas almas audazes que tentaram abrir caminho pelo campo minado de seus escritos sobre o assunto[2].

A renda, na análise final, é simplesmente um pagamento feito aos proprietários pelo direito de usar a terra e seus pertences (os recursos nela incorporados, os prédios nela construídos etc.). A terra, concebida nesse sentido muito amplo, evidentemente tem tanto valor de uso quanto valor de troca. Então, será que ela tem também um valor? Se tem, como a existência desse valor pode ser conciliado com as teorias do valor que se baseiam no tempo de trabalho incorporado (como a de Ricardo) ou, no caso de Marx, no tempo de trabalho socialmente necessário?

As melhoras incorporadas na terra são, certamente, resultado do trabalho humano. Casas, lojas, fábricas, estradas e assim por diante podem ser produzidas como mercadorias e, por isso, tratadas como valores no curso da circulação mediante o ambiente construído (ver capítulo 8). Um componente da renda pode então ser tratado como um caso especial de juros sobre o capital fixo ou sobre o fundo de consumo. A parte da renda que gera o problema é o simples pagamento da terra bruta, independente das melhorias a ela incorporadas. Marx se refere a esse componente como renda fundiária. A seguir, a menos que de outro modo especificado, trataremos a renda fundiária como renda e assumiremos que o juro sobre as melhorias é explicado de outra forma.

Evidentemente, Marx insiste que os pagamentos de aluguel não são feitos à terra e que as rendas não crescem do solo. Pagamentos desse tipo são feitos aos proprietários e seriam impossíveis sem a troca geral de mercadorias, a plena monetização da economia e todas as armadilhas legais e jurídicas da propriedade privada na terra. Mas ele também está consciente de que essa base legal nada decide e que toda a explicação da renda tem de tornar compatível um pagamento feito ostensivamente à terra com uma teoria do valor que se concentra no trabalho. (..)


Acesse a íntegra deste capítulo pelo link
https://docs.google.com/document/d/1l7E4r2KnREkd-RlrAmeOe4l5VsaI6_t_lnx9X0cRCVY/edit?usp=sharing

2024-05-01

quarta-feira, 24 de abril de 2024

Andrade 1998: Barry Parker, a Cia City e a metropolização de São Paulo


ANDRADE, C. R. M. de (1998), "2.2. Grandes negócios urbanísticos”. Em Barry Parker: um arquiteto inglês na cidade de São Paulo, Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, pp. 179-98.
https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/16/16131/tde-31102022-164103/publico/Andrade_Carlos_Roberto_Monteiro_de_1998_DO.pdf


2.2 Grandes negócios urbanísticos
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Nesse rápido processo de transformação da paisagem urbana paulistana, uma companhia imobiliária inglesa - a City of São Paulo Improvements and Freehold Land Company Limited - teve um papel decisivo. Por sua vez, também será de grande importância - como pretendemos demonstrar -, a atuação junto a essa empresa imobiliária e de melhoramentos urbanos do Arq. Barry Parker, que nela trabalhará, junto à sua sede paulistana, de fevereiro de 1917 a janeiro de 1919. Portanto, se pretendemos, em um primeiro momento, reconstituir - ainda que parcial e fragmentariamente - a fisionomia urbana da Capital de São Paulo quando da estadia de Parker, por outro lado procuraremos mostrar como sua atuação - e aqui incluímos tanto o que construiu, quanto o que deixou apenas projetado - foi fundamental na reforma dessa paisagem, bem como na concepção de São Paulo como uma metrópole.

Concorreram para o fenômeno de rápida metropolização de São Paulo diversos fatores sócio-econômicos que já vinham se estabelecendo desde o último quartel do século XIX, dentre eles, o fato de ser um centro ferroviário que articulava, através de suas redes, as principais regiões econômicas do país. É dessa caraterística determinante para efetivar a vocação metropolitana da capital que partiu o conjunto de ações que confluíram no sentido da transformação do velho burgo estudantil em uma grande cidade. As estradas de ferro no Estado tinham em São Paulo o principal nó articulador de uma vasta rede e, em Santos, o único porto escoador da produção de todo o Estado e mesmo de outras regiões do país, como nos mostram os dados da tabela abaixo, retirados de Barbosa (1987:31). 
(..)

2024-04-24

quarta-feira, 17 de abril de 2024

Predestinado (com licença de J Simão)


Diário do Rio 16-04-2024
https://diariodorio.com/terreno-em-guaratiba-que-seria-sede-da-jmj-deve-ser-novo-autodromo-do-rio/
O Rio de Janeiro pode voltar a ter um autódromo para receber corridas de carros e motos. Isso porque um projeto de lei publicado no dia 22 de março no Diário Oficial da Câmara do Rio, prevê a construção de um “autódromo parque” em Guaratiba, na Zona Oeste. O projeto estabelece o trecho do Rio Piraquê, situado entre a Avenida Dom João VI e a Estrada da Matriz, como local de construção. Trata-se do terreno onde seria a sede da JMJ, local que tem o empresário Jacob Barata como um dos sócios. A área, que é imensa, tem dois milhões de metros quadrados. (..)
O melhor lugar para as corridas de baratinhas...
é o terreno do Barata!

2024-04-17

domingo, 7 de abril de 2024

O Marco Zero e o Zepelim


FNA - Federação Nacional dos Arquitetos 28-03-2024
https://fna.org.br/entidades-recorrem-ao-iphan-para-barrar-construcao-no-marco-zero/

A Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas (FNA) assinou, no dia 13 de março, solicitação para que o presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) impeça a construção de restaurante em formato de zepelim na cobertura de prédios tombados da Praça do Marco Zero, localizados na Av. Rio Branco n° 23 e Av. Marquês de Olinda n°58, na cidade de Recife, em Pernambuco. O documento é contrário que a instalação tenha cunho reversível e/ou temporário.


O requerimento, igualmente assinado pelo Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), pelo Comitê Brasileiro do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (Icomos Brasil), Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas (ABAP) e pela Nacional dos Estudantes de Arquitetura e Urbanismo (Fenea), entre outras entidades pede pela reforma da decisão do atual superintendência do Iphan-PE, que deferiu a concessão da construção em 4 de março, que seguiu adiante após a autarquia desaprovar o projeto.

Também assinaram: Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB/PE), Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Urbano da Universidade Federal de Pernambuco (PPGMDU-UFPE), Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas (ABAP), Departamento de Arquitetura e Urbanismo da UFPE, Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), Sociedade Olindense de Defesa da Cidade Alta (Sodeca) e Fórum de Entidades em Defesa do Patrimônio Cultural Brasileiro*. (..)


2024-04-07

quarta-feira, 20 de março de 2024

A alma do negócio


Montagem: Àbeiradourbanismo
“(..) se podría decir que al comercializar um inmueble, la inmobiliaria no sólo vende un activo fijo, sino que, además, negocia el derecho que capacita al nuevo propietario a especular, o sea que, para que el individuo pueda candidatarse a especular en el mercado inmobiliario, debe antes passar por una inmobiliaria. Se obtiene, así, la condición de suficiencia para que la inmobiliaria imponga una tasa equivalente a la parte de las ganancias que habilita a su cliente a realizarlas en el futuro. (..)”*

2024-03-24
___
* SMOLKA M, “Precio de la tierra y valorización inmobiliaria urbana: esbozo para una conceptualización del problema”. Revista Interamericana de Planificación Vol XV, No 60, Dez 1981

domingo, 17 de março de 2024

Ouro, bitcoins e… residências!


SAPO Human Resources 10-03-2024
https://hrportugal.sapo.pt/numero-de-ultramilionarios-aumentou-quase-5-a-nivel-mundial-imagina-quantos-ha-em-portugal/
“(..) Os dados são retirados do The Wealth Report, um estudo anualmente concebido pela Knight Frank que reúne as mais importantes tendências e perspectivas globais do mercado imobiliário – desde 2021 que a imobiliária com sede em Londres está associada à portuguesa Quintela e Penalva. (..) 

Para os investidores, a rentabilidade do mercado residencial foi crucial para estes resultados, com a rentabilidade no investimento do mercado residencial a crescer 3,1%. Houve ainda outros sectores a apresentar resultados positivos a nível global, como o ouro, que subiu 15%, e as Bitcoin, que subiram 155%, invertendo grande parte das perdas sofridas em 2022. (..)”

2024-03-17


quarta-feira, 13 de março de 2024

A estrutura urbana de Manchester 1845, segundo F Engels


ENGELS F, “As grandes cidades” (2a parte - Manchester). Em A Situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra pp 87-116. São Paulo: Boitempo 2008

https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4662435/mod_resource/content/1/ENGELS.pdf 


(..) Mas já dissemos o bastante sobre essas cidades menores. Todas têm suas peculiaridades; nelas, porém, os operários vivem como em Manchester. Por isso, limitei-me a descrever o aspecto particular de sua estrutura; de fato, todas as observações gerais sobre a situação das moradias operárias de Manchester cabem perfeitamente à totalidade das cidades vizinhas. Passemos, pois, ao grande centro.

Manchester situa-se no sopé meridional de uma cadeia de montanhas que, partindo de Oldham, corta os vales do Irwell e do Medlock e cujo último cume, o Kersall-Moor, é, ao mesmo tempo, o hipódromo e o mons sacer de Manchester. A cidade propriamente dita encontra-se na margem esquerda do Irwell, entre esse rio e dois outros menores, o Irk e o Medlock, que aqui nele deságuam. Na margem direita do Irwell, encerrada numa espécie de anel formado pelo rio, está Salford e, mais a ocidente, Pendleton; ao norte do Irwell, encontram-se a alta e a baixa Broughton; ao norte do Irk, fica Cheetham Hill; ao sul do Medlock, está Hulme e, mais a oriente, Chorlton-on-Medlock e, ainda mais longe, mais ou menos a leste de Manchester, Ardwick. Todo esse conjunto é comumente chamado de Manchester e conta com 400 mil habitantes, senão mais.

Manchester é construída de um modo tão peculiar que podemos residir nela durante anos, ou entrar e sair diariamente dela, sem jamais ver um bairro operário ou até mesmo encontrar um operário – isso se nos limitarmos a cuidar de nossos negócios ou a passear. A razão é que – seja por um acordo inconsciente e tácito, seja por uma consciente e expressa intenção – os bairros operários estão rigorosamente separados das partes da cidade reservadas à classe média ou, quando essa separação não foi possível, dissimulados sob o manto da caridade.


Manchester tem, em seu centro, um bairro comercial bastante grande, com cerca de uma milha e meia de comprimento e outro tanto de largura, composto quase exclusivamente por escritórios e armazéns (warehouses). Nele praticamente não existem moradias e, por isso, à noite, fica vazio e deserto – apenas a guarda noturna, com suas lanternas, circula pelas ruas estreitas e sombrias. Nessa zona há algumas ruas grandes, que concentram o tráfego, e o térreo das edificações é ocupado por lojas luxuosas; aí se encontram uns poucos pavimentos superiores habitados e nela reina, até alta noite, uma certa animação. Excetuada essa zona comercial, toda a Manchester propriamente dita – ao lado de Salford e Hulme, uma parte significativa de Pendleton e de Chorlton, dois terços de Ardwick e igual parcela de Cheetham Hill e de Broughton – não é mais que um único bairro operário que, com uma largura média de uma milha e meia, circunda como um anel a área comercial. A alta e a média burguesia moram fora desse anel. A alta burguesia habita vivendas de luxo, ajardinadas, mais longe, em Chorlton e Ardwick ou então nas colinas de Cheetham Hill, Broughton e Pendleton, por onde corre o sadio ar do campo, em grandes e confortáveis casas, servidas, a cada quinze ou trinta minutos, por ônibus que se dirigem ao centro da cidade. A média burguesia vive em ruas boas, mais próximas dos bairros operários, sobretudo em Chorlton e nas áreas mais baixas de Cheetham Hill. O curioso é que esses ricos representantes da aristocracia do dinheiro podem atravessar os bairros operários, utilizando o caminho mais curto para chegar aos seus escritórios no centro da cidade, sem se aperceber que estão cercados, por todos os lados, pela mais sórdida miséria.


De fato, as principais ruas que, partindo da Bolsa, deixam a cidade em todas as direções, estão ocupadas, dos dois lados, por lojas da pequena e da média burguesias, que têm todo o interesse em mantê-las com aspecto limpo e decoroso. É verdade que tais lojas se relacionam de algum modo com os bairros que estão em suas traseiras e, naturalmente, são mais elegantes e cuidadas no bairro comercial e junto das áreas burguesas do que nas zonas em que têm de ocultar as sórdidas casas operárias; todavia, sempre dão conta de esconder dos ricos senhores e de suas madames, de estômago forte e nervos frágeis, a miséria e a sujeira que são o complemento de seu luxo e de sua riqueza. É o que acontece, por exemplo, com a Deansgate, que parte em linha reta da igreja velha para o sul; no princípio, é ladeada por boas lojas e fábricas; seguem-se lojas de segunda categoria e algumas cervejarias; mais ao sul, quando deixa o bairro comercial, tem pelos lados negócios mais pobres, que, à medida que se avança, tornam-se sujos e intercalados por tabernas; enfim, na extremidade sul, a aparência das lojas não permite qualquer dúvida sobre seus fregueses: operários, só operários. O mesmo se passa com a Market Street, que sai da Bolsa em direção ao sudeste: de início, encontramos lojas de primeira categoria e, nos andares superiores, escritórios e armazéns; depois (Piccadilly), belos hotéis e entrepostos; mais adiante ainda (London Road), junto ao Medlock, fábricas, lojas e tabernas para a pequena burguesia e para os operários; mais próximo de Ardwick Green, casas da média e alta burguesia e, a partir daí, grandes jardins e enormes residências dos mais ricos industriais e comerciantes. Assim, conhecendo a cidade, é possível, pelo aspecto dos trechos das ruas principais, deduzir o tipo de bairro contíguo; mas, dessas ruas, é extremamente difícil contemplar de fato os bairros operários. Sei perfeitamente que essa disposição urbana hipócrita é mais ou menos comum a todas as grandes cidades; também sei que os comerciantes varejistas, pela própria natureza de seu negócio, devem ocupar as ruas principais; sei igualmente que nessas ruas, em toda parte, encontram-se edificações mais bonitas que feias e que o valor dos terrenos que as rodeiam é superior ao daqueles dos bairros periféricos; entretanto, em lugar nenhum como em Manchester verifiquei tanta sistematicidade para manter a classe operária afastada das ruas principais, tanto cuidado para esconder delicadamente aquilo que possa ofender os olhos ou os nervos da burguesia. E, no entanto, em Manchester, a urbanização, menos ainda que em qualquer outra cidade, não resultou de um planejamento ou de ordenações policiais: operou-se segundo o acaso. É por isso que, quando penso na classe média afirmando às pressas que os operários se comportam de maneira adequada, sempre tenho a impressão que os industriais liberais de Manchester, as grandes personalidades liberais (big whigs), tiveram sua parte nessa organização urbana tão cheia de pudor. 


Acrescento que os estabelecimentos industriais situam-se quase todos à margem dos três rios ou dos vários canais que se ramificam pela cidade e passo diretamente à descrição dos bairros operários propriamente ditos. (..)


2024-03-13

domingo, 10 de março de 2024

Imóveis comerciais/ EUA: um resumo da crise


Valor Investe 07-03-2024, por Marília Almeida
https://valorinveste.globo.com/produtos/investimento-no-exterior/noticia/2024/03/07/queda-de-28percent-nos-precos-onde-pode-chegar-a-crise-do-imoveis-comerciais-nos-eua.ghtml
Segundo pesquisa de janeiro da WFH, a parcela de dias úteis completos trabalhados em casa ficou próxima a 30% desde o início de 2022. Ainda que tenha caído dos 60% registrados no meio de 2020, a porcentagem continua relevante. Com menos trabalhadores no escritório cinco dias por semana, a demanda por escritórios enfraqueceu e a vacância aumentou em 900 pontos percentuais entre o quarto trimestre de 2019 e o quarto trimestre de 2023.

Consequentemente, os valores de escritórios estão passando por uma correção de preços histórica. Desde que atingiram o pico cíclico em 2019, se deterioraram mais rapidamente do que a maioria dos setores imobiliários comerciais. Uma vez que a correção de preços termine este ano, a Oxford Economics projeta que os valores dos escritórios terão caído 28,6% desde seu pico em 2019. A intensidade da queda rivaliza com a desvalorização de 34,8% registrada entre os escritórios durante a crise financeira de 2008.

As implicações econômicas regionais variam. Mercados com uma concentração
maior de imóveis comerciais são mais propensos a sentir os efeitos do aumento da vacância e da queda nos valores. Ou seja, os distritos comerciais centrais (CBD) serão mais afetados do que os dos subúrbios.


Ao analisar os dados de vacância da MSCI por idade do edifício de escritórios, a Oxford Economics observa que a vacância aumentou em todas as idades e localidades entre 2019 e 2023. Mas edifícios mais antigos que 1989 e localizados nos centros comerciais centrais registraram aumento da vacância acima da média. Já edifícios mais novos, especialmente construídos após 1999 e localizados nos subúrbios, registraram cerca da metade do aumento geral da vacância de escritórios.

Os mercados com uma maior concentração de propriedades de escritório são mais propensos a sentir os efeitos do aumento da vacância e da queda nos valores. Boston, Los Angeles, Nova York, São Francisco e Washington DC representam 42% do número total de propriedades de escritório nos EUA, segundo dados da MSCI. Esses mercados são mais vulneráveis, especialmente os com edifícios mais antigos localizados no CBD. (..)”

 2024-03-10

quarta-feira, 6 de março de 2024

Especulação transnacional


NSC Total 01-03 2024
https://www.nsctotal.com.br/colunistas/dagmara-spautz/como-a-crise-no-mercado-imobiliario-dos-eua-impulsiona-balneario-camboriu-e-rio-de-janeiro


"O mercado imobiliário brasileiro tem índices de valorização superiores a outros países e, além da atratividade da diferença cambial, cada vez mais, tem se tornado alvo para os americanos, assim como para investidores de outros países", diz o especialista em mercado imobiliário Renato Monteiro (..) Segundo ele, no último ano foi observado um aumento de 20% na procura de estrangeiros por imóveis no Brasil. A expectativa é que a busca seja ainda maior em 2024.

Segundo a Sort Investimentos, (..) as principais regiões que têm sido alvo de investidores dos EUA estão no litoral brasileiro. (..) Itapema registrou 19,52% de valorização anual – um recorde. Itajaí, também ao lado de Balneário Camboriú, registrou no último levantamento da Fipezap a terceira melhor valorização do país, com 13,35%.

Já no Rio de Janeiro, o destaque para Búzios. A cidade, com pouco mais de 26 mil metros quadrados, é apontada como a bola da vez do mercado imobiliário nacional, com projeção de valorizar em até 100% os imóveis nos próximos quatro anos. 

2024-03-10

domingo, 3 de março de 2024

Campos 2008: São Paulo no século XIX


CAMPOS Eudes, “São Paulo antigo: plantas da cidade”. Informativo Arquivo Histórico Municipal, 4 (20): set/out.2008
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A planta de 1897 (..) registra a verdadeira explosão urbana ocorrida na cidade durante a última década do século XIX, quando a população saltou de 65.000, em 1890, para 240.000 habitantes em 1900.

Como vimos anteriormente, desde o final dos anos 1850 se vinha desenvolvendo em São Paulo uma forte tendência especulativa, em razão da iminente construção da primeira ferrovia paulista (Santos-Jundiaí). Mais tarde, tornaram-se comuns os loteamentos particulares, sobretudo em consequência da crise inflacionária de 1875. E por essa mesma época, fizeram-se igualmente frequentes as manobras executadas pelas elites para atrair o desenvolvimento urbano para suas terras. (..)

Em virtude de todo esse processo especulativo, foi-se configurando em São Paulo uma nova estrutura urbana. A área central, chamada Triângulo, agora quase totalmente dominada pelo comércio e serviços, adensava-se e era tomada por nova tipologia arquitetônica: construções de três pavimentos que começavam a se alastrar pelo Centro a partir dos últimos anos 1880 – sedes de instituições bancárias e prédios com lojas no térreo e apartamentos residenciais ou salas de escritórios nos andares superiores. Concomitantemente, iam os loteamentos particulares tomando o lugar das antigas chácaras. Com suas ruas ortogonalmente dispostas, esses empreendimentos imobiliários, desde então, passaram a ser a forma característica de criação do espaço urbano paulistano.

Os terrenos mais procurados para a expansão da Capital eram os de melhor localização, encontráveis ao longo dos antigos caminhos que percorriam as terras altas, preferentemente os situados ao norte e a oeste, atuais bairros da Luz, Santa Ifigênia, Campos Elísios e, pouco mais tarde, nos anos 1890, Vila Buarque e Higienópolis (em geral bairros residenciais ocupados pelas camadas mais altas da sociedade). Os mais desfavoráveis eram os situados em regiões ribeirinhas, inundáveis durante o período das chuvas, em parte adquiridos pelas companhias ferroviárias que por aí estenderam suas linhas. A presença de linhas férreas nessas regiões desocupadas atrairia as primeiras indústrias e, consequentemente, as moradias da massa trabalhadora, sempre em constante aumento. Isso ocorreu no Brás, no Pari, na Mooca (cujas datas pantanosas já estavam sendo distribuídas a imigrantes em 1876) e no Bom Retiro, que segundo Raffard vinha sendo ocupado por operários desde 1890. Aos poucos, São Paulo adquire uma conformação tentacular, com grandes vazios em seu interior (compostos de glebas reservadas para a especulação e vales profundos de difícil acesso e ocupação), praticamente inexistindo ligações viárias entre suas diferentes partes.

Com a crescente atuação da iniciativa privada, deixa o Estado de ser o agente da produção do espaço da cidade, como ainda acontecia em meados do século XIX. Passa agora a atuar apenas normativamente, ou quando se torna necessário estabelecer a interligação entre os vários loteamentos esparsos, na busca de conferir alguma coesão à colcha de retalhos a que se reduz daí por diante a estrutura urbana paulistana.

Um relatório encaminhado em 1891 ao governo estadual descrevia muito bem a situação vivida por uma cidade submetida a um processo de intensa e descontrolada expansão. Embora fundada havia três séculos, São Paulo podia ser considerada uma cidade nova. (..)

2024-03-03

domingo, 25 de fevereiro de 2024

São Paulo, o nascimento da metrópole (1)

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O mapa ao lado, produzido pela Companhia Cantareira e Esgotos no ano de 1881, talvez seja o mais emblemático da meteórica transformação da São Paulo colonial-imperial, classificada por Cândido Malta Campos como “núcleo provinciano de segunda categoria antes de 1870”, em Centro da metrópole capitalista radiada.

O marco distintivo desse processo é o advento da indústria dos loteamentos periféricos destinados a adquirentes com capacidade de endividamento - vale dizer os estratos sociais de médios e altos rendimentos -, parcialmente servidos por bondes de tração animal (elétricos só a partir de 1900), mas também influenciados pela presença das estações ferroviárias Luz (1868) da São Paulo Railway (Santos-Jundiaí) e São Paulo (1872, futura Júlio Prestes), da EF Sorocabana, peças-chaves da cafeicultura capitalista que subjaz à rápida transformação de São Paulo.

Essa primeira expansão periférica se faz acompanhar da expansão do próprio núcleo colonial-imperial para abrigar tanto os novos proletários que buscam os cortiços para fugir ao custo dos deslocamentos urbanos quanto os novos comércios, serviços e pequena indústria que, em muitos casos, substituem as residências dos comerciantes nos sobrados recém-valorizados.

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Assinalei sobre o mapa de 1881 as primeiras áreas loteadas referidas por Candido M Campos* – Santa Ifigênia entre Aurora e Duque de Caxias, Morro do Chá e Campos Elíseos, onde começam a se estabelecer os comerciantes abastados e os novos capitalistas agrícolas.

A construção, na Chácara do Carvalho, futuro bairro da Barra Funda, do palacete do conselheiro Antônio Prado - grande cafeicultor, presidente da Companhia Paulista de Estradas de Ferro, sócio da Prado & Chaves, maior casa exportadora nacional, presidente do Banco de Comércio e Indústria de São Paulo, senador vitalício do Império, deputado por São Paulo (1869-1872), Ministro dos Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas (1885-1888), Ministro das Relações Exteriores (1888) e prefeito de São Paulo (1899-1911) - assinala, talvez, o ápice desse primeiro impulso suburbanizador paulistano, à qual se seguiria a formação de novos bairros em todas as demais direções.

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Transparece aqui a noção hurdiana (1903) de crescimento urbano [capitalista] 
central e axial simultâneo e reciprocamente determinado, em todas as direções disponíveis, claramente materializado não mais de 10 anos depois nas urbanizações de Santa Cecília, Consolação, Bela Vista, Liberdade, Mooca, Brás, Pari, Luz e Bom Retiro (mapa de 1890).

A inauguração do Viaduto do Chá em 1892 viabilizará a expansão do centro urbano nascente para o lado Oeste do Anhangabaú, às expensas da área residencial do Morro do Chá, seguindo a direção de preferência dos estratos sociais mais abastados. Na direção oposta, onde em 1881 já se delineia a ocupação residencial ao redor da estação ferroviária do Brás (1867), mais tarde surgirá o lado proletário da centralidade metropolitana paulistana.

O compacto arruamento colonial-imperial (mapa 1881) propicia à centralidade em formação as condições ideais para o desenvolvimento da aglomeração comercial e sua subsequente especialização – o centro financeiro do “Triângulo”, o mais antigo e tradicional da cidade, onde até hoje opera a Bolsa de Valores.

Sintomático, talvez, dessa etapa formativa da centralidade capitalista, é o fato de que a planta de 1890, que segundo o pesquisador Eudes Campos** tinha por objetivo “orientar os forasteiros”, contendo por isso ruas de largura uniforme, indicação dos principais edifícios e pontos de parada dos bondes da Companhia Ferro Carril de São Paulo, não traz a inscrição “CENTRO” para indicar a área da cidade colonial-imperial, a essa altura já caracterizada como origem de uma expansão urbana nitidamente radiada, qualitativamente distinta, em forma e conteúdo, do crescimento vegetativo dos séculos precedentes.

2024-02-28
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* CAMPOS Candido Malta, Os rumos da idade: urbanismo e modernização em São Paulo. São Paulo: Senac 2002. Edição do Kindle.

** CAMPOS Eudes, “São Paulo antigo: plantas da cidade”. Informativo Arquivo Histórico Municipal, 4 (20): set/out.2008
https://www.academia.edu/37066912/S%C3%A3o_Paulo_antigo_plantas_da_cidade  

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

Oxford UK, século XI


PARKER James, On the history of Oxford during the tenth and eleventh centuries, (912-1100): the material of a lecture delivered before the Oxford architectural and historical society, Feb. 28, 1871. Oxford: Oxford University Press 1871 
https://archive.org/details/39002011213312.med.yale.edu/page/2/mode/2up

Author: Either James Parker (1834-1912), or unknown.
The book makes no reference to an artist involved in the making of the map.

https://en.m.wikipedia.org/wiki/File:Map_of_11th_century_Oxford.jpg
Clique na imagem para ampliar 

(..)

The Streets, and the Parish Boundaries.

It is reasonable to suppose that before the close of the eleventh century, the city was divided into parishes. It is implied by the distinct mention of the "Parish Churches" in the Abingdon Abbey Chronicles, and further it may be inferred from the circumstance that the twelve churches of which we find mention as being within the walls, if taken as centres of small districts, occupy the whole of the space included within the wall with the exception of a small space at the south-eastern corner. Further consideration will confirm this view, for it will be seen by a reference to a plan of Oxford which I have appended, with the present boundaries of parishes marked upon it, that there is a certain system observable — partly depending on the churches, partly upon the streets, but also what appears to me to be of importance, partly upon the boundary of the city. I venture to infer from this, as we have certain knowledge of the names of the churches and of their actual sites, and a presumed knowledge of the general line of the city wall, that (a) we must fix the division of the city into parishes within the date of which I am writing; that (b) the subdivision was not a matter of chance, depending upon the gradual growth of the place, as new districts were added, but a systematic division of a definite space; and also that (e) with some exceptions the boundaries of the parishes have little changed. 

It will be observed that the general plan of the city is a rough parallelogram, with the sides converging somewhat as they tend to the west, in order to meet a circular outlier occupied by the Castle. From about the centre of the space so enclosed four chief streets diverge, running almost according to the points of the compass, due N., S., E. and W. That centre still bears the name of Carfax, corrupted from the Norman-French of Quatre-voies, i.e. where four ways meet. 

Of the four streets, the largest and most important, stretches eastward but bends a little to the south as it approaches the site of East-gate, and seems to have been called the High-street for a very long period of time. The names of North-street and South-street appear as late as Agas, in the former the Cornmarket stands, and the latter leads to S. Aldate's Church, whence now their respective names. The Western-street seems to have been called in part "The Baillie" and in part "Castle-street," but, so far as I have observed, no documents give us the names of any of the streets so early as the eleventh century.

At one of the corners where the four principal streets so meet stands S. Martin's Church.

(..) 

The Map of Oxford.

In attempting to illustrate the probable remains of the eleventh century on a map, I have mainly kept in view the identification of the sites named or referred to : I have therefore drawn Oxford as it is in brown lines. At the same time, I have brought out rather more clearly than is shewn in ordinary maps the line of the medieval city wall. There is no doubt of its exact course throughout.

On the map I have first of all added in black all the churches and chapels mentioned. I have also marked the Castle mound, and one or two other points. The black shading, which is supposed to represent the original ditch, must be taken only as approximately accurate, and as giving rather a general idea of the enceinte of the town, than a representation of actual remains. Along the north and eastern side I have little doubt the medieval ditch followed very nearly the line of the old one. On the south side, I confess I doubt if there was ever much of a ditch, — indeed there may have been none at all, and the stream may have been considered a sufficient defence.

I have coloured the streams blue, and it will be observed that there is a small one on the north side of the Broad Walk : it is shewn in all old maps. This stream, I believe, was once of much greater importance. It provided a communication from the Cherwell with the Trill p Mill-stream, — a little to the east of where it passes beneath S. Aldate's-street, and it was found to have existed beneath the site of the new buildings at Christ Church when they were digging the foundation. It passed along this north side of the Broad Walk, and joined the Cherwell just at its bend.

The light blue dotted line represents the modern parish boundaries, and is intended to illustrate what has been said on p. 66. The square form of the central parish is very apparent, others more or less retain the form of a square or a parallelogram. As already said, the parishes of S. Peter, S. Ebbe, and S. Aldate, seem to have been somewhat extended in later times.

The object of the map being to illustrate especially the remarks in the lecture, it is of course imperfect in many details which a full historical map of Oxford should give ; but as far as details are given, I think they may be relied on, as I have inserted nothing for which the authority has not been given already in these pages ; and the lines of streets, &c, have been taken from recent surveys.

(..)

2024-02-18

domingo, 18 de fevereiro de 2024

Urbanização e planejamento no Brasil: ops!


ArchDaily 05-06-2019, por Priscila Pacheco e Laura Azeredo
https://www.archdaily.com.br/br/918452/a-historia-da-urbanizacao-brasileira

Não é de hoje que me bato pelo entendimento de que a história da cidade e a história do urbanismo, ou do planejamento urbano, ainda que intimamente entrelaçadas, são coisas muito diferentes. Como dito em uma postagem sobre o Recife dos anos 1920:

A cidade e o urbanismo que nela intervém raramente são reconhecidos, e tratados, como objetos distintos em nossos estudos históricos. E é justo por aparecerem sempre tão intimamente entrelaçados no plano dos fatos, muitas vezes sem uma clara relação de causalidade, precedência ou interdependência, que se torna crítica a distinção. [1]

Neste artigo do ano 2019, a história da urbanização brasileira é resumida por suas autoras com base... nos ciclos de planejamento urbano (!) tais como observados e analisados por Flávio Villaça em seu texto “Uma contribuição para a história do planejamento urbano no Brasil”, Capítulo 6 da publicação de DEÁK e SCHIFFER (Orgs), O processo de urbanização no Brasil.

Isso parece indicar que, para as autoras, os “ciclos de urbanização” e os “ciclos planejamento urbano” são, em nosso país, tão rigorosamente coincidentes e densamente entretecidos que ou é impossível distingui-los ou não há motivo para fazê-lo.
Arte: Daniel Hunter / WRI Brasil
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Seria apenas o ponto de vista das autoras, discutível como o meu e quaisquer outros, não fosse o fato de apresentarem o esquema temporal de Villaça com as palavras: “Conheça a seguir, conforme a divisão de Flávio Villaça, as fases da urbanização brasileira.” [itálico meu]. Com direito a um vistoso gráfico, que reproduzo ao lado.

Como definir tal procedimento?

Ora, o texto de Villaça não trata da urbanização, mas do planejamento urbano brasileiro. E é dedicado justamente a demonstrar que a nossa urbanização se deu com pouca ou nenhuma contribuição relevante dos planos e do planejamento, em todas as suas fases. Mais exatamente, Villaça expõe a inoperância e a alienação históricas do planejamento urbano brasileiro, no âmbito institucional, em face dos problemas gerados pela urbanização conduzida pelo consórcio entre as classes dominantes e o Estado.

Não por acaso, é gritante a contradição entre o pensamento das autoras - para quem "A ideia de que as cidades brasileiras não foram planejadas é falsa. As cidades foram, sim, planejadas" - e o que diz Villaça sobre o planejamento urbano no Brasil. A passagem baixo, extraída de sua contribuição, o demonstra: 

(..) Finalmente, os planos diretores também não foram utilizados para legitimar obras ou ações concretas das prefeituras, já que os prefeitos não os assumiam.

Esse quadro se torna mais intrigante quando se atenta para o descompasso existente entre, de um lado, a inconsequência e mesmo inutilidade da maioria dos planos elaborados por décadas e décadas e, por outro, o enorme desenvolvimento que o planejamento "teórico" (ideológico na verdade) vem experimentando no Brasil, abrigado em faculdades de arquitetura, órgãos de planejamento urbano ou metropolitano e dezenas de governos municipais, estaduais e federais.

O domínio do discurso na esfera do planejamento urbano nos leva ainda e inexoravelmente a outra pergunta: o planejamento urbano e os planos diretores elaborados no Brasil nas últimas décadas devem ser analisados no âmbito da política ou da ideologia? Essa indagação tem redobrada importância diante de análises que, ao pretenderem investigar “políticas públicas” e ação concreta do Estado, investigam planos que não passam de discurso. Nesse sentido, não é raro por exemplo, no Brasil, denominar-se “prática de planejamento" ou "aperfeiçoamento do planejamento" a pura redação de relatórios, a pura redação ou reformulação livresca de planos que mal saem das quatro paredes de uma secretaria de planejamento e nunca chegaram sequer a ser debatidos (e muito menos aprovados) nos legislativos municipais ou estaduais (no caso de planos metropolitanos) e nunca foram efetivamente assumidos por qualquer executivo ou qualquer partido político. (..) [*] 

Tenho cá comigo que não se trata, neste caso, de um "deslize" autoral episódico, mas da manifestação um tanto desastrada de uma vertente de pensamento urbanístico para a qual tudo que se passa em nossas cidades, e tudo o que elas são, é o resultado de decisões de política e, por extensão, de planejamento urbano - donde se deduz que tudo o que precisamos para evitar e corrigir suas inequidades e aleijões são políticas e planos urbanísticos alternativos, socialmente orientados.

Tornarei ao assunto. 

2024-02-14

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[1] “Apontamentos: Moreira e Saraiva 2020, urbanismo e suburbanização no Recife dos anos 1920”. À beira do urbanismo (blog) 10-08-2021, por Pedro Jorgensen
https://abeiradourbanismo.blogspot.com/2021/08/apontamentos-moreira-e-saraiva-2020.html

[2] VILLAÇA F, “6 – Uma contribuição para a história do planejamento urbano no Brasil”. Em DEÁK e SCHIFFER (Orgs), O Processo de Urbanização no Brasil, São Paulo: Edusp 1999, pp. 190-91.

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

Locorotondo, Apulia, Itália


(..) Locorotondo has very ancient origins, although the first written testimonies date back to the 12th century, when the village was surrounded by high walls of protection. The name Locorotondo comes from Latin “locus rotundus”, which means “round place”, to indicate the circular shape of the town.

The history of Locorotondo was marked by different dominations: first Byzantine, then Norman, then by the Knights of St. John of Jerusalem and finally Aragonese. In 1790 Locorotondo obtained administrative autonomy from the Benedictine monastery of Monopoli, to which it had been subjected for centuries. In 1807 the castle that stood in the center of the village was destroyed, as a sign of rebellion against the dukes Caracciolo di Martina Franca, who had oppressed the population with excessive taxes and torture in prisons. (..)

https://italysecretspots.com/locorotondo-the-city-of-cummerse/

2024-02-18