Fonte: https://twitter.com/rauljustelores/status/1146972053452599296
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Montagem: Àbeiradourbanismo |
ENGELS F, “As grandes cidades” (2a parte - Manchester). Em A Situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra pp 87-116. São Paulo: Boitempo 2008
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4662435/mod_resource/content/1/ENGELS.pdf
(..) Mas já dissemos o bastante sobre essas cidades menores. Todas têm suas peculiaridades; nelas, porém, os operários vivem como em Manchester. Por isso, limitei-me a descrever o aspecto particular de sua estrutura; de fato, todas as observações gerais sobre a situação das moradias operárias de Manchester cabem perfeitamente à totalidade das cidades vizinhas. Passemos, pois, ao grande centro.
Manchester é construída de um modo tão peculiar que podemos residir nela durante anos, ou entrar e sair diariamente dela, sem jamais ver um bairro operário ou até mesmo encontrar um operário – isso se nos limitarmos a cuidar de nossos negócios ou a passear. A razão é que – seja por um acordo inconsciente e tácito, seja por uma consciente e expressa intenção – os bairros operários estão rigorosamente separados das partes da cidade reservadas à classe média ou, quando essa separação não foi possível, dissimulados sob o manto da caridade.
Manchester tem, em seu centro, um bairro comercial bastante grande, com cerca de uma milha e meia de comprimento e outro tanto de largura, composto quase exclusivamente por escritórios e armazéns (warehouses). Nele praticamente não existem moradias e, por isso, à noite, fica vazio e deserto – apenas a guarda noturna, com suas lanternas, circula pelas ruas estreitas e sombrias. Nessa zona há algumas ruas grandes, que concentram o tráfego, e o térreo das edificações é ocupado por lojas luxuosas; aí se encontram uns poucos pavimentos superiores habitados e nela reina, até alta noite, uma certa animação. Excetuada essa zona comercial, toda a Manchester propriamente dita – ao lado de Salford e Hulme, uma parte significativa de Pendleton e de Chorlton, dois terços de Ardwick e igual parcela de Cheetham Hill e de Broughton – não é mais que um único bairro operário que, com uma largura média de uma milha e meia, circunda como um anel a área comercial. A alta e a média burguesia moram fora desse anel. A alta burguesia habita vivendas de luxo, ajardinadas, mais longe, em Chorlton e Ardwick ou então nas colinas de Cheetham Hill, Broughton e Pendleton, por onde corre o sadio ar do campo, em grandes e confortáveis casas, servidas, a cada quinze ou trinta minutos, por ônibus que se dirigem ao centro da cidade. A média burguesia vive em ruas boas, mais próximas dos bairros operários, sobretudo em Chorlton e nas áreas mais baixas de Cheetham Hill. O curioso é que esses ricos representantes da aristocracia do dinheiro podem atravessar os bairros operários, utilizando o caminho mais curto para chegar aos seus escritórios no centro da cidade, sem se aperceber que estão cercados, por todos os lados, pela mais sórdida miséria.
De fato, as principais ruas que, partindo da Bolsa, deixam a cidade em todas as direções, estão ocupadas, dos dois lados, por lojas da pequena e da média burguesias, que têm todo o interesse em mantê-las com aspecto limpo e decoroso. É verdade que tais lojas se relacionam de algum modo com os bairros que estão em suas traseiras e, naturalmente, são mais elegantes e cuidadas no bairro comercial e junto das áreas burguesas do que nas zonas em que têm de ocultar as sórdidas casas operárias; todavia, sempre dão conta de esconder dos ricos senhores e de suas madames, de estômago forte e nervos frágeis, a miséria e a sujeira que são o complemento de seu luxo e de sua riqueza. É o que acontece, por exemplo, com a Deansgate, que parte em linha reta da igreja velha para o sul; no princípio, é ladeada por boas lojas e fábricas; seguem-se lojas de segunda categoria e algumas cervejarias; mais ao sul, quando deixa o bairro comercial, tem pelos lados negócios mais pobres, que, à medida que se avança, tornam-se sujos e intercalados por tabernas; enfim, na extremidade sul, a aparência das lojas não permite qualquer dúvida sobre seus fregueses: operários, só operários. O mesmo se passa com a Market Street, que sai da Bolsa em direção ao sudeste: de início, encontramos lojas de primeira categoria e, nos andares superiores, escritórios e armazéns; depois (Piccadilly), belos hotéis e entrepostos; mais adiante ainda (London Road), junto ao Medlock, fábricas, lojas e tabernas para a pequena burguesia e para os operários; mais próximo de Ardwick Green, casas da média e alta burguesia e, a partir daí, grandes jardins e enormes residências dos mais ricos industriais e comerciantes. Assim, conhecendo a cidade, é possível, pelo aspecto dos trechos das ruas principais, deduzir o tipo de bairro contíguo; mas, dessas ruas, é extremamente difícil contemplar de fato os bairros operários. Sei perfeitamente que essa disposição urbana hipócrita é mais ou menos comum a todas as grandes cidades; também sei que os comerciantes varejistas, pela própria natureza de seu negócio, devem ocupar as ruas principais; sei igualmente que nessas ruas, em toda parte, encontram-se edificações mais bonitas que feias e que o valor dos terrenos que as rodeiam é superior ao daqueles dos bairros periféricos; entretanto, em lugar nenhum como em Manchester verifiquei tanta sistematicidade para manter a classe operária afastada das ruas principais, tanto cuidado para esconder delicadamente aquilo que possa ofender os olhos ou os nervos da burguesia. E, no entanto, em Manchester, a urbanização, menos ainda que em qualquer outra cidade, não resultou de um planejamento ou de ordenações policiais: operou-se segundo o acaso. É por isso que, quando penso na classe média afirmando às pressas que os operários se comportam de maneira adequada, sempre tenho a impressão que os industriais liberais de Manchester, as grandes personalidades liberais (big whigs), tiveram sua parte nessa organização urbana tão cheia de pudor.
Acrescento que os estabelecimentos industriais situam-se quase todos à margem dos três rios ou dos vários canais que se ramificam pela cidade e passo diretamente à descrição dos bairros operários propriamente ditos. (..)
"O mercado imobiliário brasileiro tem índices de valorização superiores a outros países e, além da atratividade da diferença cambial, cada vez mais, tem se tornado alvo para os americanos, assim como para investidores de outros países", diz o especialista em mercado imobiliário Renato Monteiro (..) Segundo ele, no último ano foi observado um aumento de 20% na procura de estrangeiros por imóveis no Brasil. A expectativa é que a busca seja ainda maior em 2024.Segundo a Sort Investimentos, (..) as principais regiões que têm sido alvo de investidores dos EUA estão no litoral brasileiro. (..) Itapema registrou 19,52% de valorização anual – um recorde. Itajaí, também ao lado de Balneário Camboriú, registrou no último levantamento da Fipezap a terceira melhor valorização do país, com 13,35%.Já no Rio de Janeiro, o destaque para Búzios. A cidade, com pouco mais de 26 mil metros quadrados, é apontada como a bola da vez do mercado imobiliário nacional, com projeção de valorizar em até 100% os imóveis nos próximos quatro anos.
Foto e legendas: Arq Marcos Moraes de Sá Fonte: Facebook 14-02-2024 https://www.facebook.com/photo/?fbid=7866026566746502&set=a.103392296343340 |
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Author: Either James Parker (1834-1912), or unknown. The book makes no reference to an artist involved in the making of the map. https://en.m.wikipedia.org/wiki/File:Map_of_11th_century_Oxford.jpg Clique na imagem para ampliar |
The Streets, and the Parish Boundaries.
It is reasonable to suppose that before the close of the eleventh century, the city was divided into parishes. It is implied by the distinct mention of the "Parish Churches" in the Abingdon Abbey Chronicles, and further it may be inferred from the circumstance that the twelve churches of which we find mention as being within the walls, if taken as centres of small districts, occupy the whole of the space included within the wall with the exception of a small space at the south-eastern corner. Further consideration will confirm this view, for it will be seen by a reference to a plan of Oxford which I have appended, with the present boundaries of parishes marked upon it, that there is a certain system observable — partly depending on the churches, partly upon the streets, but also what appears to me to be of importance, partly upon the boundary of the city. I venture to infer from this, as we have certain knowledge of the names of the churches and of their actual sites, and a presumed knowledge of the general line of the city wall, that (a) we must fix the division of the city into parishes within the date of which I am writing; that (b) the subdivision was not a matter of chance, depending upon the gradual growth of the place, as new districts were added, but a systematic division of a definite space; and also that (e) with some exceptions the boundaries of the parishes have little changed.
It will be observed that the general plan of the city is a rough parallelogram, with the sides converging somewhat as they tend to the west, in order to meet a circular outlier occupied by the Castle. From about the centre of the space so enclosed four chief streets diverge, running almost according to the points of the compass, due N., S., E. and W. That centre still bears the name of Carfax, corrupted from the Norman-French of Quatre-voies, i.e. where four ways meet.
Of the four streets, the largest and most important,
stretches eastward but bends a little to the south as it approaches the site of
East-gate, and seems to have been called the High-street for a very long period
of time. The names of North-street and South-street appear as late as Agas, in
the former the Cornmarket stands, and the latter leads to S. Aldate's Church,
whence now their respective names. The Western-street seems to have been called
in part "The Baillie" and in part "Castle-street," but, so
far as I have observed, no documents give us the names of any of the streets so
early as the eleventh century.
At one of the corners where the four principal streets so
meet stands S. Martin's Church.
(..)
The Map of Oxford.
ArchDaily 05-06-2019, por Priscila Pacheco e Laura Azeredo
https://www.archdaily.com.br/br/918452/a-historia-da-urbanizacao-brasileira
A cidade e o urbanismo que nela intervém raramente são reconhecidos, e tratados, como objetos distintos em nossos estudos históricos. E é justo por aparecerem sempre tão intimamente entrelaçados no plano dos fatos, muitas vezes sem uma clara relação de causalidade, precedência ou interdependência, que se torna crítica a distinção. [1]
Ora, o texto de Villaça não trata da urbanização, mas do planejamento urbano brasileiro. E é dedicado justamente a demonstrar que a nossa urbanização se deu com pouca ou nenhuma contribuição relevante dos planos e do planejamento, em todas as suas fases. Mais exatamente, Villaça expõe a inoperância e a alienação históricas do planejamento urbano brasileiro, no âmbito institucional, em face dos problemas gerados pela urbanização conduzida pelo consórcio entre as classes dominantes e o Estado.
(..) Finalmente, os planos diretores também não foram utilizados para legitimar obras ou ações concretas das prefeituras, já que os prefeitos não os assumiam.
Esse quadro se torna mais intrigante quando se atenta para o descompasso existente entre, de um lado, a inconsequência e mesmo inutilidade da maioria dos planos elaborados por décadas e décadas e, por outro, o enorme desenvolvimento que o planejamento "teórico" (ideológico na verdade) vem experimentando no Brasil, abrigado em faculdades de arquitetura, órgãos de planejamento urbano ou metropolitano e dezenas de governos municipais, estaduais e federais.
O domínio do discurso na esfera do planejamento urbano nos leva ainda e inexoravelmente a outra pergunta: o planejamento urbano e os planos diretores elaborados no Brasil nas últimas décadas devem ser analisados no âmbito da política ou da ideologia? Essa indagação tem redobrada importância diante de análises que, ao pretenderem investigar “políticas públicas” e ação concreta do Estado, investigam planos que não passam de discurso. Nesse sentido, não é raro por exemplo, no Brasil, denominar-se “prática de planejamento" ou "aperfeiçoamento do planejamento" a pura redação de relatórios, a pura redação ou reformulação livresca de planos que mal saem das quatro paredes de uma secretaria de planejamento e nunca chegaram sequer a ser debatidos (e muito menos aprovados) nos legislativos municipais ou estaduais (no caso de planos metropolitanos) e nunca foram efetivamente assumidos por qualquer executivo ou qualquer partido político. (..) [*]
Tenho cá comigo que não se trata, neste caso, de um "deslize" autoral episódico, mas da manifestação um tanto desastrada de uma vertente de pensamento urbanístico para a qual tudo que se passa em nossas cidades, e tudo o que elas são, é o resultado de decisões de política e, por extensão, de planejamento urbano - donde se deduz que tudo o que precisamos para evitar e corrigir suas inequidades e aleijões são políticas e planos urbanísticos alternativos, socialmente orientados.
Tornarei ao assunto.
2024-02-14
(..) Locorotondo has very ancient origins, although the first written testimonies date back to the 12th century, when the village was surrounded by high walls of protection. The name Locorotondo comes from Latin “locus rotundus”, which means “round place”, to indicate the circular shape of the town.The history of Locorotondo was marked by different dominations: first Byzantine, then Norman, then by the Knights of St. John of Jerusalem and finally Aragonese. In 1790 Locorotondo obtained administrative autonomy from the Benedictine monastery of Monopoli, to which it had been subjected for centuries. In 1807 the castle that stood in the center of the village was destroyed, as a sign of rebellion against the dukes Caracciolo di Martina Franca, who had oppressed the population with excessive taxes and torture in prisons. (..)
https://italysecretspots.com/locorotondo-the-city-of-cummerse/
"(..) um consumidor que tenha de se deslocar a um lugar central para adquirir um bem terá menos dinheiro disponível do que um que viva no próprio lugar central, porque tem de pagar o custo do transporte. Ficará, assim, sujeito a comprar menos. Este efeito de fricção da distância causado pelo custo do transporte (pressuposto 1) provoca o decréscimo da procura com a distância ao lugar central." [9]
A relevância contemporânea do modelo de Von Thunen reside na sua adaptação à economia urbana, que permitiu o estudo da renda urbana e suburbana e da localização das famílias e atividades econômicas nas cidades. (..) A característica fundamental da economia urbana refletida no modelo é a necessidade que têm as famílias de ir ao centro para trabalhar usando um sistema radial de transportes. (..) Uma falha [fault] dessa abordagem é pressupor [it assumes] algo que está por ser explicado [we want to explain]: a existência do centro comercial urbano [urban central market]. [12]
Em seu clássico texto de 1971 intitulado “Land Assignment in the
Precapitalist, Capitalist, and Postcapitalist City” [12a], Vance parece
ter sido o primeiro a explicitar, sem discuti-la em termos teóricos, a noção
de que a cidade capitalista é um objeto histórico, qualitativamente
distinto da cidade feudal que a precedeu. Para ele, “o advento da renda imobiliária
urbana como fonte de riqueza pessoal, produto do desenvolvimento do sistema
capitalista, transformou fundamentalmente a morfologia da cidade”.[13]
Meu ponto de vista é algo distinto. Considero que o fundamento da cidade
capitalista por oposição à feudal é a nova riqueza extraída do mais-trabalho
assalariado criador de mercadorias, sem a qual não haveria a renda
imobiliária, tampouco a sub-classe dos rentistas. Minha hipótese é que a livre
circulação de mercadorias - força de trabalho incluída - e a consequente onipresença
do mercado gerou, no meio urbano herdado do passado feudal, uma nova dinâmica
espacial baseada na vantagem econômica da mínima distância-custo entre residências
e negócios (comércios, serviços e pequena manufatura), socialmente
materializada na expansão tendencialmente radial-concêntrica da cidade moderna.
*
Propor a interdependência econômico-espacial entre o aglomerado central de negócios e o aglomerado periférico de residentes como motor da dinâmica urbana capitalista não significa, porém, supor que tal dinâmica se apresente da mesma maneira em qualquer tempo e lugar. Devido ao caráter desigual, no espaço e tempo, do desenvolvimento capitalista, ela há de ter ritmos e etapas condizentes com as circunstâncias sócio-históricas em que se constrói a cidade: como lenta transformação do burgo feudal europeu, como expansão e reconstrução relativamente rápida da cidade colonial hispano-americana, como nascimento ex novo da cidade de fronteira estadunidense.