segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Patrimônio, Moradia e Dinâmica Imobiliária na Área Central do Rio de Janeiro: Notas para discussão sobre projeto urbano e planejamento

Por Henrique Barandier (Comunicação ao I ENANPARQ - Encontro Nacional da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo - Rio de Janeiro, 29/11 a 03/12 de 2010). 

Dando continuidade à apresentação de trabalhos acadêmicos recentes sobre a dinâmica urbana do Centro do Rio de Janeiro, À beira do urbanismo reproduz para os seus leitores uma relevante contribuição - disponível na Internet - do arquiteto e urbanista carioca Henrique Barandier.
Clique na imagem para ampliar

Nestas notas, cuja introdução segue abaixo junto com o link para o original completo, Barandier esboça uma imagem do desenvolvimento urbano recente do Centro da cidade por justaposição de suas dimensões histórico-cultural, demográfica e imobiliária, conformando-se um “território de territórios” a demandar um programa de iniciativas públicas de planejamento e projeto que tenha como princípio diretor o respeito à diversidade historicamente constituída no espaço. Nas palavras do autor:
"Para a área central, um dos grandes desafios que está posto é o da construção de uma agenda que busque a difícil conciliação entre a atuação do mercado imobiliário com a preservação do patrimônio histórico e a ampliação da oferta habitacional para diferentes classes sociais, de modo a evitar processos de “gentrificação” e homogeneização. E neste sentido é preciso estar atento, pois num ambiente de maior dinamismo da economia e do mercado imobiliário, a produção da cidade se faz também, e sobretudo, no varejo do dia a dia e não apenas pelas grandes intervenções conduzidas pelo poder público.”
A comunicação está dividida em três partes:
· Patrimônio histórico e cultural na área central do Rio de Janeiro – notas sobre as APACs como instrumento de preservação de conjuntos urbanos

· Moradia na área central do Rio de Janeiro – notas sobre dados de população residente

· Dinâmica imobiliária na área central do Rio de Janeiro – notas sobre alguns empreendimentos recentes
Boa leitura.


Patrimônio, Moradia e Dinâmica Imobiliária na Área Central do Rio de Janeiro: Notas para discussão sobre projeto urbano e planejamento
Por Henrique Barandier

Introdução
O presente trabalho tem por objetivo apresentar contribuições para o debate sobre projeto urbano e paisagem na metrópole, a partir do olhar sobre a área central do Rio de Janeiro1. O enfoque adotado recai sobre temas que, de algum modo, estão também na pauta das demais áreas centrais das metrópoles brasileiras: patrimônio histórico e cultural, moradia e dinâmica imobiliária.
A área central do Rio de Janeiro passou, em pouco mais de um século, por diversos processos de transformações urbanísticas que resultaram num espaço múltiplo e complexo. Nessa trajetória, o núcleo urbano inicial da metrópole carioca foi marcado pelas intervenções higienistas e de embelezamento do início do século XX, pela verticalização a partir dos anos 30, pelo rodoviarismo dos anos 50 e pelas ações de recuperação e preservação do conjunto arquitetônico urbanístico desde os anos 80.
Carregada de simbolismos e de uma expressiva concentração de atividades econômicas, a área central carioca caracteriza-se como um espaço em que se sobrepõem diversos processos simultâneos de valorização/ desvalorização/ revalorização do solo, em seus vários “nichos locacionais”. Tais processos formam uma complexa trama de iniciativas públicas e privadas que conformam a história urbana, combinando estratégias de renovação e reabilitação, substituições e permanências, inovações locacionais etc.
A expansão periférica da metrópole, apesar do baixíssimo crescimento populacional das últimas décadas, produziu espaços de subutilização e obsolescência em toda a área de urbanização mais antiga da cidade, da área central aos subúrbios da Leopoldina. No momento atual, entretanto, verificam-se, ao mesmo tempo, fatores que impulsionam a expansão periférica e fatores que parecem favorecer as políticas de reafirmação do centro, constituindo campo fértil para a proposição de projetos urbanos que redesenhem a cidade existente e para a revisão das bases do planejamento e da própria gestão urbana. Trata-se de um momento de crescimento econômico, em que o país vive um novo ciclo de caráter desenvolvimentista.
A Região Metropolitana do Rio de Janeiro (RMRJ) é, hoje, objeto de investimentos de grande porte (públicos e privados), tais como o novo complexo petroquímico da Petrobrás, o Arco Metropolitano, a construção da CSA Siderúrgica do Atlântico em Santa Cruz, entre outros, que, acompanhados de ações do PAC – Programa de Aceleração do Crescimento e do Programa Minha Casa Minha Vida, indicam a reconfiguração do espaço metropolitano. Apesar de se constituírem como forças centrífugas, que provavelmente contribuirão para a dispersão da metrópole, simultaneamente poderão reforçar o centro do Rio de Janeiro como o grande centro metropolitano, de negócios, financeiro e o local de instalação de sedes de empresa.
No período recente, novos lançamentos imobiliários residenciais e não residenciais na área central sinalizam alterações na dinâmica urbana, aliando construção de novas unidades com a transformação de uso de edifícios em avançado estado de deterioração – retrofit. É nesse novo contexto que pensar o papel do projeto urbano e o próprio planejamento parece relevante e necessário.
Não é demais lembrar que, em outros períodos de forte desenvolvimento econômico, desastres urbanístico-ambientais foram promovidos na Cidade do Rio de Janeiro, associados, sobretudo, à abertura de vias para favorecer o modo de transporte rodoviário e individual. Nas últimas duas décadas, os gestores municipais alimentaram o desejo de empreender grandes transformações urbanísticas na área central, com a previsão de construção de espaços espetaculares, tais como novos centros de negócios, grandes museus, arenas multiusos etc. Contudo, invariavelmente não conseguiram levar a cabo suas intenções e, nesse processo, a própria idéia de revitalização da área central assumiu diferentes significados. Em alguns projetos ou discursos assumindo caráter mais preservacionista do ambiente cultural e social existente e em outros, em especial nos grandes projetos urbanos, enfatizando a perspectiva de formação de novas centralidades no espaço pericentral, a partir da oferta de novos produtos imobiliários.
Neste trabalho são apresentadas algumas breves considerações sobre o contexto acima esboçado. Não há, aqui, evidentemente, a pretensão de abordar de modo tão aprofundado os temas do patrimônio, da moradia e da dinâmica imobiliária, mas sim destacas alguns aspectos sobre os mesmos que parecem importantes para a discussão do presente e do futuro da área central do Rio de Janeiro. (Continua)
Henrique Barandier é Mestre em Urbanismo, pesquisador do PROURB/UFRJ e Coordenador de Ensino de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente - ENSUR/IBAM

Para acessar a íntegra do texto, clique no link 
http://www.anparq.org.br/dvd-enanparq/simposios/214/214-840-1-SP.pdf


2013-12-30


segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Grandes Projetos Urbanos: Battery Park City, Nova York

Esta postagem é uma compilação de materiais de diversas fontes, tipos e pontos de vista disponíveis na Internet, organizados segundo os atributos do projeto.


Objeto
Battery Park City é uma comunidade planejada de uma área de 0.4 km² no extremo sudoeste de Manhattan, Nova Iorque. A zona sobre a que se encontra, foi construída sobre o rio Hudson, usando 917.000 metros cúbicos de terra e rochas escavadas durante a construção do World Trade Center e outros projetos.
 
***
O empreendimento Battery Park City está localizado no baixo Manhattan, em Nova Iorque, em um aterro sobre o rio Hudson, numa área antigamente ocupada por docas. A partir da década de 1960, com o fechamento das docas, o Departamento de Planejamento da Prefeitura de Nova Iorque começou a desenvolver uma série de projetos para a área prevendo a sua renovação urbana e a utilização da área aterrada para múltiplas finalidades. (...)
 
Nobre, Eduardo A. C., “Renovação Urbana em Battery City Park”,  http://www.fau.usp.br/docentes/depprojeto/e_nobre/battery_park.pdf    



Antecedentes 
The earliest ideas for Battery Park City were precipitated by the collapsing status of 20 piers in the Hudson River, which, through the 1950s, had handled produce for the Washington Market in the area now known as Tribeca. The New York City Department of Marine and Aviation wanted to rebuild them as a continuous, 100-acre truck dock and warehouse to coax shipping companies back to Manhattan. The agency hired consultants to present a vision of the Hudson waterfront in the year 2000. The planners recognized that this site seemed to have a different potential. Swank apartments in 1960s beach resort architecture might attract New York's cosmopolitan set or Wall Street workaholics. Miesian office towers could offer downtown corporations a setting somewhat more progressive or enlightened than the famously chaotic financial district.  The solution was to build this "unprecedented new city" on top of the shipping terminals, with a sort of industrial esplanade along the edge. The plan was presented in 1962 and was not well received. (...) 
http://www.batteryparkcity.org/Who-We-Are/Urban-Experiment_2.php
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O primeiro Plano diretor para a região foi projetado em 1962 e previa um misto de torres residenciais e de escritórios, seguindo os preceitos modernistas de Le Corbusier e Mies van der Rohe, conjuntamente com atividades portuárias que se manteriam na região. Em 1966 o governador do estado de Nova Iorque, Nelson Rockefeller, apresentou  um segundo plano seguindo os mesmo preceitos corbusianos. Em 1969 foi a vez de o prefeito John Lindsay apresentar outro plano seguindo idéias futuristas das megaestruturas, em voga à época.  

(...) O projeto só começou a se tornar viável na década de 80, quando a maior empreendedora de prédios comerciais do mundo, a Olympia & York Properties (O&Y), ganhou a licitação da área comercial propondo a construção de todos os edifícios comerciais de uma só vez.

Entre 1981 e 1988, a O&Y construiu o centro comercial do empreendimento, o World Financial Center (...)

Nobre, Eduardo A. C., “Renovação Urbana em Battery City Park”,  http://www.fau.usp.br/docentes/depprojeto/e_nobre/battery_park.pdf    

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Para um histórico resumido, porém completo, dos projetos para Battery Park City, ver o site da The Hugh L. Carey Battery Park City Authority, página “Urban Experiment”:

Autoria
(...) Haciendo uso de sus atribuciones [Richard Kahan] contrató en forma directa al arquitecto Cesar Pelli, considerándolo una “marca” atractiva para los inversores, capaz de proponer un master plan con una imagen potente. Con estas cartas en la mano entrevistó al grupo Olimpia York, de origen Canadiense, considerado en aquel momento como uno de los promotores mas sólidos y prestigiosos, encargándole en forma directa la realización de este  proyecto. (...)

Garay,Alfredo. “Modalidades de Gestión de grandes proyectos”, Carajillo de la Ciudad, Año 3, Octubre 2011 http://www.cafedelasciudades.com.ar/carajillo/10_art2.htm

Marco político-administrativo
Em 1968 foi criado o órgão responsável pelo desenvolvimento do empreendimento, o Battery Park city Anthority (BPCA). (...)

A crise fiscal pela qual a cidade passou entre 1977 e 1979 e a falta de interesse da iniciativa privada no empreendimento fizeram com que este sofresse grandes reformulações. A terra, que tinha sido adquirida pela prefeitura da companhia portuária (New York City Port Authority), passou para o gerenciamento da Corporação de Desenvolvimento Urbano do Estado de Nova Iorque.

A corporação condenou o plano de 75 e começou os trabalhos para elaboração de um novo plano, baseado em novos parâmetros sobre a ocupação e uso do solo, fora de qualquer contexto legal de zoneamento, prevendo um grande centro comercial e residencial na região (Barnett, 1982).

A corporação contratou um escritório de consultoria em desenho urbano, Cooper -Eckstut Associates, para estabelecer normas de controle do empreendimento, que ao invés de seguir a forma de um plano diretor, elaboraram um guia de desenho urbano, referente à preservação dos corredores visuais, à localização e à forma das quadras e prédios, configuração do espaço público e detalhamento de acabamentos externos. (...)
Nobre, Eduardo A. C., “Renovação Urbana em Battery City Park”,  http://www.fau.usp.br/docentes/depprojeto/e_nobre/battery_park.pdf    


***
(...) En los Estados Unidos cuando el gobierno de una ciudad debe tomar a su cargo asuntos que representen un interés estratégico, el sistema institucional prevé la  designación de una autoridad competente. A través de esta figura (autoririty) el municipio delega en una persona (funcionario) la capacidad de gerenciar cuestiones de gran importancia, como el puerto o el aeropuerto, implementando para su manejo modalidades de  tipo empresario.

La figura de la autoridad asigna a un funcionario responsabilidades que lo habilitan para  manejar cuestiones  de interés público reproduciendo modalidades que habitualmente caracterizan al sector privado. 

En el caso de  Battery Park la persona seleccionada fue un joven funcionario, Richard Kahan, al que se encomendó promover un emprendimiento inmobiliario que revirtiera las tendencias de deterioro que presentaba aquel sector.   

Analizando el sitio Kahan identificó dos problemas: el primero solucionar las dificultades para acceder al predio, separado del ¨down town¨ por una vía de transito rápido; el segundo, lograr que una gran empresa acepte el desafío de ser pionera en una operación que localice los usos del down town sobre el borde de agua (waterfront).

Haciendo uso de sus atribuciones contrató en forma directa al arquitecto Cesar Pelli, considerándolo una “marca” atractiva para los inversores, capaz de proponer un master plan con una imagen potente.

Con estas cartas en la mano entrevistó al grupo Olimpia York, de origen Canadiense, considerado en aquel momento como uno de los promotores [2]mas sólidos y prestigiosos, encargándole en forma directa la realización de este proyecto.

Olimpia York aceptó el desafío, convenciendo a American Express de la posibilidad de establecer allí las oficinas centrales del grupo. Esta decisión, que implicó una serie de ajustes en el master plan original (como que en la selección de materiales predomine el color verde), despertó gran expectativa en el circuito financiero de la ciudad , dando lugar a una fuerte corriente de inversión sobre este sector.  (...)

Garay,Alfredo. “Modalidades de Gestión de grandes proyectos”, Carajillo de la Ciudad, Año 3, Octubre 2011 http://www.cafedelasciudades.com.ar/carajillo/10_art2.htm


Custos e Financiamento 
Em 1972, o governo lançou US$ 200 milhões em bônus a fim de arrecadar dinheiro para a realização do aterro de 37 hectares, que foi completado em 1976. (...)

Toda a infra-estrutura (água, esgoto, energia, vias e parques) foi bancada pelo poder público, sendo o restante construído pelos empreendedores. O total de capital investido foi da ordem de US$ 300 milhões, sendo que US$ 60 milhões foram de investimentos públicos diretos (Gordon, 1997).

Nobre, Eduardo A. C., “Renovação Urbana em Battery City Park”,  http://www.fau.usp.br/docentes/depprojeto/e_nobre/battery_park.pdf    

Características do projeto 
1979 - PRACTICAL REALISM - This plan was adopted during a flurry of reorganization in late 1979. Up to then the City had owned the landfill and Battery Park City Authority leased it. But due to a financial emergency caused by the lack of development during the 1970s, New York State's Urban Development Corporation moved in (with the City's cooperation) and condemned the project, transferring title from the City to the Battery Park City Authority. This gave the Authority an ability to make sweeping changes quickly: the first of which was to adopt a radical new master plan. It was radical because it was so simple. 




The new plan was a product of the hard-nosed, practical realism at the end of the 1970s. Streets and sidewalks were returned to grade level and made an extension of Manhattan's grid (as had been done in all earlier landfill expansions of lower Manhattan). This yielded conventional development blocks, which, in turn, yielded conventional building forms. Each block could be parceled out to different developers at different times, according to market demand. The commercial center was moved from the southern end of the site up to the middle, tying it to the World Trade Center. 

The Master Plan extends the street grid of Lower Manhattan into Battery Park City, dividing the site into development parcels, thus connecting a new part of the city with the old. Individual parcels are leased to private developers who build on them in accordance with Design Guidelines created especially for Battery Park City. These guidelines prevent a "super block" appearance and provide for a variety of building types and designs common to older neighborhoods in New York City.

Battery Park City Authority reviews and monitors all architecture and design work, planned or underway. Consistent with the 1979 Master Plan, Battery Park City Authority issues design guidelines for each new development area, which provides a design framework for developers leasing parcels from Battery Park City Authority. 

Battery Park es un sector del puerto de Nueva York ubicado en el sud oeste de la isla de Manhatan. Está separado del down town por una autopista que marca el limite de la zona bancaria. (...) El master plan debió solucionar el problema del cruce sobre la vía rápida proponiendo la construcción de un paso peatonal de gran porte, provisto de escaleras mecánicas que vincula el hall principal de las torres gemelas con el hall central de Batery Park. Este gran hall cubierto se comporta como una plaza de escala urbana. Los muros vidriados permiten grandes visuales sobre el frente costero que a su ves ha sido acondicionado con un magnífico parque.

Garay,Alfredo. “Modalidades de Gestión de grandes proyectos”, Carajillo de la Ciudad, Año 3, Octubre 2011 http://www.cafedelasciudades.com.ar/carajillo/10_art2.htm

***
O esquema proposto [pela Cooper -Eckstut  Associates] partiu de princípios defendidos por Jane Jacobs (1961), que já se haviam consolidado entre os urban designers: densidades urbanas elevadas, uso misto, quadras pequenas com construções no alinhamento e pequenos parques. O esquema (...) previu que o uso misto deveria seguir as seguintes porcentagens: 42% para fins residenciais (14 mil unidades residenciais); 9% para uso comercial (560 mil metros quadrados de escritórios); 30% de espaço público (parques, praças, esplanadas e passeio público); 19% de ruas e avenidas.


Ao Norte e ao Sul ficariam os empreendimentos residenciais, enquanto no centro seria construída a área comercial, bem em frente ao complexo de edifícios do World Trade Center e fisicamente conectada a esse. Um sistema linear de áreas livres, composto de parques, praças e passeios públicos, foi proposto ao longo da orla do rio, unindo essas diversas zonas.

As quadras conectavam-se com a malha urbana existente, seguindo o alinhamento da grelha no entorno, preservando, assim, as vistas para o rio. O fato de elas serem de dimensões reduzidas evitaria a construção de um megaprédio, promovendo prédios de diversos tamanhos e formas como os existentes nos quarteirões antigos da cidade. (…) 

Nobre, Eduardo A. C., “Renovação Urbana em Battery City Park”,  http://www.fau.usp.br/docentes/depprojeto/e_nobre/battery_park.pdf    

Críticas e comentários 
(...) En términos conceptuales de esta experiencia interesa resaltar algunos datos: 

1- La elaboración de un master plan que desarrolle conceptualmente los alcances de la intervención. 

La flexibilidad de este master plan, que sobre la base de una geometría razonable debe permitir el emplazamiento de una serie de productos inmobiliarios (reconocidos o innovadores) que conforman un programa tentativo.

El master plan debe asimismo ponderar las dimensiones del emprendimiento, calculando aunque sea en forma preliminar costos y beneficios.

Debe por ultimo proponer una imagen que exprese en términos gráficos las características de la propuesta. Este documento asume un carácter netamente ideológico, connotando el emprendimiento de cara a la discusión, que la autoridad debe librar frente a actores económicos, políticos y sociales, que intervendrán en diferentes momentos del proceso de toma de decisión.

2- Un segundo dato se refiere a la figura del desarrollador, y al crecimiento de su importancia para la implementación de emprendimientos de gran envergadura. La experiencia americana permite identificar a lo largo del tiempo una interesante evolución de los empresarios que asumen este roll; 

Originalmente las intervenciones sobre la ciudad asociaban a una empresa constructora y a un inversor que derivaba sobre el real state excedentes acumulados en el desarrollo de otra actividad económica. 

La importancia del financiamiento dio lugar a una época en que los bancos se convirtieron en promotores de los emprendimientos urbanos. Con el correr del tiempo fue consolidándose la opinión que los constructores, cuando eran los promotores de un proyecto, construían muy caro, y que los bancos, cuando delegaban la concepción y el gerenciamiento de estos emprendimientos en personajes formados en la dinámica financiera, presentaban una falta de imaginación notable. 

La figura del developper (desarrollador) surgió como superación de estas instancias, tratándose de un personaje capaz de combinar creatividad y credibilidad, virtudes que le permitían asociar a un conjunto de empresarios entorno a un gran proyecto..

Los desarrollares fueron por lo tanto promotores de intervenciones de escala urbana, centrando su actividad en la capacidad de convocar financiamiento, contratar y supervisar la ejecución , comercializando en forma mayorista las diferentes partes del proyecto. En rigor no tienen por que ser inversores, percibiendo por su contribución al desarrollo del proyecto un porcentaje proporcional al éxito del negocio. 

El éxito de los desarrolladores llevo a algunos casos a vincularlos con grandes fondos de inversión, para quienes pasaron a ser un interlocutor principal en la afectación de una parte significativa de su cartera.

En los últimos años la complejidad que ha adquirido la tramitación de las autorizaciones, sobre todo en lo referido a la construcción de los consensos, basados sobre el conocimiento de la racionalidad de los diferentes actores, ha dado origen a una nueva modalidad de desarrollador, que frecuentemente encuentra a antiguos funcionarios municipales, como los personajes mejor calificados para llevar adelante el emprendimiento.

La existencia de diferentes modelos de operación, no desdibuja la importancia del desarrollador como sintetizador del conjunto de interese privados que se asocian en la inversión, y por lo tanto como interlocutor principal cada ves que el Estado pretenda encarar una operación compleja sobre suelo publico. 

3- Un tercer dato que interesa destacar es que el proyecto debe combinar aspectos que signifiquen ventajas para los diferentes actores que intervienen en la toma de decisión. Debe por lo tanto ser atractivo para los inversores, prestigioso para los políticos y debe implicar mejoras objetivas para las condiciones de vida del vecindario. 


Este aspecto guarda relación con la existencia de códigos flexibles, capaces de ser modificados para incorporar iniciativas imposibles de imaginar en el momento de su concepción. Esta observación no apunta obviamente a promover la eliminación de estos instrumentos, sino a la necesidad de implementar los mecanismos que permitan procesar este tipo de intervenciones. En el caso de New York estas modificaciones son posibles, siempre que obtengan la aprobación del Consejo Municipal, que impone como condición para su tratamiento la elaboración de una serie de estudios destinados a evaluar ambiental y socialmente el impacto de estas intervenciones, y a discutir la iniciativa frente a las asociaciones de representantes de los interese del vecindario. 

En la actualidad estos beneficios deben ser demostrados, confrontando generalmente con un numero importante de costos sociales (como su impacto ambiental). El riesgo de sumergirse en un conflicto político que repercuta sobre la imagen del proyecto y sobre sus posibilidades de comercialización, hace depender la viabilidad del proyecto de su calidad arquitectónica, del prestigio de los inversores, y de la capacidad de negociación de quien lo lidera. La propuesta deberá por lo tanto tener la flexibilidad suficiente para modificarse, sacrificar algunos intereses en función de la satisfacción de los intereses de los otros, en el marco de la conformación de un consenso que garantice la calidad del proyecto, y la sustentabilidad política y económica del emprendimiento. 

En el caso de Battery Park estas condiciones se verificaron, permitiendo desarrollar en un plazo especialmente corto una intervención que tuvo un impacto sumamente positivo. Prueba de ello es que en la actualidad la fotografía de este proyecto es presentada recurrentemente como una de las imágenes mas significativas de la ciudad de Nueva York.

Garay,Alfredo. “Modalidades de Gestión de grandes proyectos”, Carajillo de la Ciudad, Año 3, Octubre 2011 http://www.cafedelasciudades.com.ar/carajillo/10_art2.htm

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In retrospect, we can see that the designers and the Battery Park City authority do clarify early on that restrictive development guidelines, however eschewed by the developers themselves, would ensure a consistently high quality of environment, attractive to investors and consumers alike. Once developers became comfortable with the idea that guidelines would help them, they worked closely with the planning officials. Battery Park City represents the best of the political hybrid system, typical of New York, in which massive development projects are initiated and sometimes carried out through a colossal marriage of corporatism and public policy making, such as Westway, Lincoln West, and the Times Square Redevelopment Plan (Savitch, 1988, 59). The detailed guidelines are the ersatz legal manifestation of a corporate desire. Overarching this is the pervasive attitude that, indeed, above all else, the “city is a machine for wealth creation” (Hall, 1988, 343).

(..)

The Battery Park City Authority should more accurately call itself the “Urban Experience Development Corporation”, as Tony Hiss humorously describes the capitalism of place-making (Hiss, 1990, 99). This tendency manifests itself in the commodification of the urban experience through a  production system oF development control. The fabrication of consumable images of “New Yorkness” through the control of architectural and urban expression is compatible with the targeted group of users. In spatial and social terms, the experience sought has less to do with New York and more to do with preconceived ideas of what New York is or should be.  (...)
Russell, Francis P. “Battery Park City: An American Dream of Urbanism”

 ***
(…) Todos esses fatores, principalmente a qualidade do espaço público e a relação do espaço construído com o já existente, acabaram por resultar na aclamação do empreendimento pela crítica internacional especializada em arquitetura e urbanismo (...)
Contudo, apesar da boa qualidade atingida do espaço construído, Fainstein (1991) fez pesadas críticas ao projeto por considerar que sua diversidade é artificial, igualando-se a uma Disneilândia, pois em função do preço proibitivo do empreendimento, o espaço comercial  e residencial foi ocupado pelas corporações e famílias mais poderosas dos Estados Unidos. 

Nesse aspecto Fainstein é categórica, definindo Battery Park City como uma “bem planejada cidade privada, ceifada das classes baixas indisciplinadas que fazem da cidade pública um local cheio de conflitos e esteticamente desagradável” (...)
Nobre, Eduardo A. C., “Renovação Urbana em Battery City Park”,  http://www.fau.usp.br/docentes/depprojeto/e_nobre/battery_park.pdf    

***
(… ) In 1994 Fainstein concluded that Battery Park City "is a carefully co-ordinated total environment, with substantial financial benefits disseminated to the general population. Its principle private developer went beyond meeting its contractual obligations and provided the public with significant amenities. The authority has also used its funds to make the city more appealing. Nevertheless, except in some of the park planning, it has involved no public participation whatsoever. Its commercial and residential structures are reserved for the wealthiest corporations and families in the United States, although any well-behaved individual can use them on a daily basis. She says: "Within the constraints of New York's political and economic situation, however, it is hard to imagine an alternative strategy for the site that could have resulted in a more desirable outcome or that, in the absence of any development there, commensurate resources would have been mobilized for a more socially beneficial course" (pp. 184-5).

When I first read these words in 1994, I did not understand that this was as close as it gets to a good review of a privately developed project in radical political economy. As a practicing planner and public-redevelopment manager, I was familiar with the litany of praise for the project. Perhaps to protect her left flank in the academy, Fainstein had couched her positive evaluation in careful academic prose and bracketed it with criticism of the authority and observations on its elite residents. I didn't realize that she liked Battery Park City, too. (…)
David L. A. Gordon (School of Urban and Regional Planning, Queen's University at Kingston, Ontario) (Review of Susan S. Fainstein. The City Builders: Property Development in New York and London, 1980-2000. Second edition) Published on H-Urban (June, 2002) http://www.h-net.org/reviews/showrev.php?id=6384 

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Textos e saites
The Hugh L. Carey Battery Park City Authority
  
Garay,Alfredo. “Modalidades de Gestión de grandes proyectos”, Carajillo de la Ciudad, Año 3, Octubre 2011 
 http://www.cafedelasciudades.com.ar/carajillo/10_art2.htm

Gordon, David L. A. Battery Park City: Politics and Planning on the New York Waterfront
http://books.google.com.br/books?id=2YD6A5UtS4MC&printsec=frontcover&hl=pt-BR#v=onepage&q&f=false

Gordon, David L. A. (School of Urban and Regional Planning, Queen's University at Kingston, Ontario) (Review of Susan S. Fainstein. The City Builders: Property Development in New York and London, 1980-2000. Second edition) Published on H-Urban (June, 2002)
http://www.h-net.org/reviews/showrev.php?id=6384 

Nobre, Eduardo A. C., “Renovação Urbana em Battery City Park”,
http://www.fau.usp.br/docentes/depprojeto/e_nobre/battery_park.pdf   

Russell, Francis P. “Battery Park City: An American Dream of Urbanism”




http://www.hanrahanmeyers.com/masterplans.html



Outros textos 
(Bibliografia compilada por Nobre, Eduardo A. C., “Renovação Urbana em Battery City Park”)  http://www.fau.usp.br/docentes/depprojeto/e_nobre/battery_park.pdf )
Barnett, Jonathan (1982) An Introduction to Urban Design. Nova York: Harper & Row Publishers.

Davies, Colin (1992) “Critique: on the Waterfront”. Progressive Architecture, v. 73, n. 4, abril, pp. 122-124.

Fainstein, Susan (1991) “Promoting Economic Development: Urban Planning in the United States and Great Britain”. Journal of the American Planning Association, v. 57, n1, Inverno, pp. 23-33.

Fainstein, Susan (1994) The City Builders: property, politics and planning in London and New York. Oxford: Blackwell Publishers

Gordon , David (1997) “Financing Waterfront Regeneration”. Journal of the American Planning Association, v.63, n.2, primavera , pp. 244-265

Nobre, Eduardo A. C. (2000) Reestruturação Econômica e Território: expansão recente do terciário na marginal do rio Pinheiros. Teses de Doutorado. São Paulo: Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP

Progressive Architecture (1986) “Cooper, Eckstut Associates”. Progressive Architecture, n. 1, janeiro, pp. 120-121.

Progressive Architecture (1986) “Urban Design Citation: Waterfront Neighborhood”. Progressive Architecture, n.1, janeiro, p. 120-121. 



2013-12-13


domingo, 22 de dezembro de 2013

À beira NEWS Caderno de Domingo - Bairros de Niterói


Por pura falta do que fazer, o blogueiro misturou  os nomes de 20 dos 52 bairros de Niterói no quadro abaixo, lidos na horizontal, na vertical e na diagonal, em ambas as direções. Não considerou acentos, cedilhas, tis nem espaços nos nomes compostos. O leitor está desafiado a encontrá-los. Dica: um único bairro aparece na diagonal.
 


Esta é a lista com os 52 bairros da cidade de Niterói, Estado do Rio de Janeiro, relacionados às suas Regiões de Planejamento:

Regiões de Planejamento e seus Bairros 

Praias da Baía- Boa Viagem, Cachoeiras, Centro, Charitas, Fátima, Gragoatá, Icaraí, Ingá, Jurujuba, Morro do Estado, Pé Pequeno, Ponta da Areia, Santa Rosa, São Domingos, São Francisco, Viradouro e Vital Brasil.
Norte- Baldeador, Barreto, Caramujo, Cubango, Engenhoca, Fonseca, Ilha da Conceição, Santa Bárbara, Santana, São Lourenço, Tenente Jardim e Viçoso Jardim.
Pendotiba- Badu, Cantagalo, Ititioca, Morro Do Céu, Largo da Batalha, Maceió, Maria Paula, Matapaca, Sapê e Vila Progresso.
Leste- Muriqui, Rio do Ouro e Várzea das Moças.
Oceânica- Cafubá, Camboinhas, Engenho do Mato, Itacoatiara, Itaipu, Jacaré, Jardim Imbuí, Maravista, Piratininga, Santo Antônio e Serra Grande.

Clique na imagem para ampliar


 
 

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Setor residencial em Canary Wharf


Deu no Financial Times – Londres
10-12-2013, por Daniel Thomas

Canary Wharf expansion plans to include 3,000 homes
Torre residencial (Herzog & de Meuron)
emblemática de Wood Wharf, expansão
residencial de Canary Wharf

More than 3,000 homes will be developed on the eastern edge of Canary Wharf, alongside offices and shops, under revised plans for the Wood Wharf extension submitted on Tuesday morning by the business estate’s owners.
The Wood Wharf plans, which have been discussed over the past decade as Canary Wharf has grown to fill its existing estate to the east of London, mark the first significant housing development for the mainly commercial scheme.
Wood Wharf will be the first big extension to the business district since the financial crash, which held up the estate’s growth as financial groups froze hiring.
(..) The move is the latest step by commercial property developers into London’s residential market, where prices have risen sharply over the past couple of years. British commercial real estate investment trusts have also begun to develop new housing for sale. (Continua)

2013-12-18


segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

A cidade dos sonhos

Esta é Doha, capital do Catar. Qualquer semelhança com algum, ou vários, dos Grandes Projetos Urbanos contemporâneos, ou com fragmentos deles, não é pura figuração nem mera coincidência.


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Eu não a conheço, devo admitir. Dizem que é uma cidade. Acredito até que em algum lugar das redondezas deva existir uma cidade. Mas o que aparece ao mundo é um mostruário de centros de negócios e hotéis de luxo verticais dentro de um circuito de Fórmula 1. Os paddocks, ao centro, não me deixam mentir.

Doha é, provavelmente, o paradigma do Grande Projeto Urbano da finança globalizada. Aquilo que todo, ou quase todo, GUP de nossa época gostaria de ser.

O Catar, seguramente, é o país que todo financista gostaria de chamar de seu: um emirado absolutista hereditário comandado pela Casa de Thani desde meados do século 19, com status de protetorado britânico até a independência em 1971 e, desde então, um dos Estados mais ricos da região devido às receitas do petróleo e do gás natural.

A população estimada é de 1,9 milhão de habitantes, dos quais apenas 250 mil nativos cataris. Os demais são trabalhadores de origem estrangeira, especialmente indianos (24%), nepaleses (16%), árabes (13%), filipinos (11%) "bangladeshis" (5%), paquistaneses (4%), "srilankis" (2%) e outros (7%). 

A proporção da população por sexo é: 75,6% masculina e 24,4% feminina - o que talvez explique a atraente - e bota atraente nisso! - arquitetura da futura "Arena Al Wakrah".

Arena Al Wakrah
A renda per capita do país pelo critério PPC (Paridade do Poder de Compra) é de cerca de 88,2 mil dólares, simplesmente a maior do mundo. (A do Brasil é 11,8 mil e a dos EUA 48,1 mil.) 

As posições mais importantes do Estado são ocupadas por membros ou grupos próximos da família al-Thani. Não há partidos políticos, legislativo nem imposto de renda. A terra, eu não sei a quem pertence. Mas - convenhamos - não há muitas opções.

A Copa do Mundo de 2022 vai ser realizada nesta colônia à beira do extraterreno onde, segundo notícias recentes, 1 trabalhador imigrante "empregado" na construção de seus estádios, infraestrutura e equipamentos morre diariamente devido às condições desumanas de trabalho. 

Continuo a meditar nas razões pelas quais a África do Sul, o Brasil, a Rússia e o Catar foram escolhidos, sucessivamente, para sediar a Copa do Mundo da FIFA. 

Continuo a meditar, também, nas razões pelas quais muitos arquitetos e urbanistas, mesmo passados os anos sombrios em que qualquer edifício que brotasse em nossas cidades parecia melhor do que o solo estorricado da recessão econômica, ainda sonham com essa Ilha da Fantasia.  

2013-12-14

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Legendas das fotos [Sorin Furcoi/Al Jazeera] de um estudo publicado naquele jornal online em 11-11-2013:

http://www.aljazeera.com/indepth/inpictures/2013/11/pictures-qatar-construction-workers-2013119134756837268.html
  • Qatar's wealth has led the country to rapidly develop.
  • Qatar is undertaking ambitious development projects as it gears up to host the FIFA World Cup in 2022.  
  • Qatar has the highest percentage of migrant workers in the world. Eighty-eight percent of people living in the Gulf state are citizens of other countries.
  • The vast majority of Qatar's migrant workers come from South and East Asia.
  • Migrant labourers' contracts often differ significantly from what they were promised when they were recruited in their home countries.
  • Employers often confiscate their workers' passports, despite a 2009 law forbidding them to do so.  
  • Many labourers work 12-hour shifts, with one day off per week. 
  • Temperatures regularly reach above 40 degrees during the summer months, making manual labour an often gruelling process. 
  • Some workers are housed in cramped living quarters, with as many as a dozen men sharing a single room. 
  • A lack of safety equipment is a major issue for construction workers.
  • Francois Crepeau, the UN Special Rapporteur on the Human Rights of Migrants, said Qatar's labour laws "still lack implementation on the ground".
  • Crepeau called for the establishment of a minimum wage, a more robust labour inspection system, and the abolishment of the kafala system, which binds migrant workers to a single employer.